O afetivo filme rodoviário de Ani Simon-Kennedy se assemelha com o convencional “Sem Rastros”, carregado por uma comovente Sabrina Carpenter como uma adolescente na periferia.
Uma história aconchegante e afetiva sobre viver fora da grade, “The Short History of the Long Road” começa com uma imagem pacífica de uma jovem mulher, cujas fechaduras flutuam sobre as águas ensolaradas da piscina. Mas sua serenidade é interrompida por seu pai antes que ela consiga imergir completamente na calmaria do momento. E em breve, a hora chega para a dupla ir a estrada novamente em sua RV vintage, nem dando tempo da adolescente terminar seu cachorro quente, feito em uma churrasqueira suja que já viu dias melhores.
Com uma economia narrativa surpreendente – e um boost da faixa flutuante “Come Along” de Maurice Williams – essa breve abertura para a escritora-diretora Ani Simon-Kennedy (Days Of Grey) torna inequívoco que a casa vazia que o pai e a filha acabaram de aproveitar não pertence a eles e essas interrupções são comuns na vida de Nola (cantora-atriz Sabrina Carpenter, mostrando um lado diferente de seus talentos após “The Hate U Give”). Evidentemente criada na estrada por seu pai Clint (Steven Ogg), que assina um ponto de vista livre em desacordo com as normas comuns de estabilidade. Nola acompanha a existência errante que lhe foi atribuída, mas involuntariamente, certamente não sem uma pitada de protesto. Nesse sentido, a bem-educada e autossuficiente Nola, dotara especialmente em mecânica de carros como o seu pai, poderia ser uma irmã espiritual do personagem de Thomasin McKenzie em “Sem Rastros”, de Debra Granik, outra ode cinematográfica despretensiosa para aqueles que vivem nas margens de alto risco da civilização americana.
Estreando em drive-ins selecionados em 12 de junho (e disponível em VOD no dia 16 de julho), o filme relativamente mais popular de Simon-Kennedy não é tão profundo quanto o exercício filosófico de Granik que desafia as instituições capitalistas – nem é tão devastador como “Meu amigo Pete” de Andrew Haigh, um estudo igualmente crítico de Americana, visto através dos olhos de um adolescente sem-teto. Ainda assim, “The Short History of the Long Road” demonstra com habilidade que ele tem o coração fixado nas mesmas investigações sociais em torno de classe, insegurança financeira e a ideia de de construir uma família com pessoas afins.
Por um curto tempo, essas noções parecem um pouco diluídas e nebulosas, enquanto Nola e Clint flutuam de um lugar para o outro sem se preocupar, tiram vantagem de propriedades abandonadas, ganham o que podem (às vezes, com pequenos furtos) e assistem um filme ou dois quando há oportunidade. Mas quando a tragédia ocorre e Nola se vê sozinha com nada além de seu trailer quebrado, as prioridades sociais e políticas de Simon-Kennedy surgem imediatamente.
Ainda assim, a cineasta decide manter o filme bastante calmo e leve, sem grande picos dramáticos. Ao longo, uma série de prestadores de serviços prestativos entram e saem da vida de Nola, enquanto a tranquila cinematografia de Cailin Yatsko captura majestosamente as vastas vistas ensolaradas do Novo México. Mas essa ausência de peso palpável, felizmente não ocorre à custa do respeito e do realismo. Simon-Kennedy permanece tomando cuidado para não adoçar ou romantizar as condições sombrias que Nola enfrenta quando procura determinadamente por sua mãe em Albuquerque – passando noites como ocupante em casas abandonadas, se livrando com sorte de situações inseguras, roubando lanchonetes e lojas quando não há opções, e assim por diante. Ao longo do caminho, o bom samaritano Marcie, de Rusty Schwimmer, abre suas portas para Nola, apenas para se revelar como uma fanática religiosa mais tarde. Emtão, quase milagrosamente, o bem-humorado e dono de uma carroçaria Miguel, de Dany Trejo, acolhe a jovem sob sua ala de proteção, dando a Nola um emprego, pelo qual ele oferece a ela um lugar para ficar e conserta sua van em troca.
Enquanto a introdução da mãe biológica de Nola, Cheryl (Maggie Siff), uma mulher trabalhadora e sem interesse em maternidade, dá ao filme nômade algum senso de direção, pouco faz para fortalecer o poder emocional da história. Da mesma forma, o filme carece de algo a mais do que uma amizade feminina aleatória na qual Nola embarca com uma garota local enquanto mora na garagem de Miguel. Ainda assim, há substância suficiente para impulsionar “The Short History of the Long Road” adiante através de suas pequenas curvas e lombadas. Acima de tudo, é o desempenho restrito de Carpenter e seu ar de sabedoria, permeando a tela com uma qualidade astutamente íntima, da qual é difícil se afastar.